As ilustrações de Matisse para As Flores do Mal
As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, são uma das obras-primas da poesia mundial. Publicado na França em 1857, o livro causou espanto na sociedade da época. Baudelaire foi processado por atentado à moral e seis poemas foram censurados na edição seguinte, publicada em 1861. O motivo: os poemas de As Flores do Mal traziam ao público imagens e temas controversos e incômodos à realidade humana, como erotismo, decadência, morte.
Durante o século XX, as edições e reedições do livro tiveram inúmeras propostas editoriais, incluindo ilustrações feitas por importantes artistas, como Émile Bernard, Charles Despiau, Jacob Epstein, Gustave Rodin, Georges Rouault e Pierre-Yves Trémois. Em 1947, a Biblioteca Francesa publicou uma edição especial de As Flores do Mal ilustrada por Henri Matisse. Foram 300 exemplares, numerados e assinados um a um pelo pintor.
A abordagem de Matisse se diferenciou diante das demais por ilustrar os poemas com 33 retratos, esboços desenhados a lápis. Entre os desenhos estão um retrato de Baudelaire, um autorretrato de Matisse e dezenas de rostos femininos, talvez simbolizando as musas que teriam inspirado o poeta. Em um texto intitulado “Et le peintre Henri Matisse réinventa les muses de Baudelaire” (E o pintor Henri Matisse reinventa as musas de Baudelaire), Julien Helmlinger sugere que a interpretação de Matisse sobre As Flores do Mal não buscaria ilustrar o que cada poema expressava, ou seja, não era literal; as ilustrações seriam, na verdade, complementares a obra original.
Em 2014, cada um dos 300 exemplares originais dessa edição ilustrada por Matisse estava avaliado em 6.000 euros (aproximadamente R$ 26.000,00). Mas, para quem não tem tanto dinheiro assim, há edições fac-similares, como a publicada pela editora Éditions du Chêne, muito bem cuidada, que adquiri há alguns anos. Sem dúvida, uma maneira ainda mais instigante de ler As Flores do Mal.
Keila Prado Costa
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